Amigos palestrinos... há algumas horas venho pensando no que escrever sobre o jogo de hoje a noite... é tanto tempo sem assistir Libertadores que algumas horas antes do jogo a euforia toma conta de mim...mas está difícil... sei que foge um pouco ao propósito do blog mas só consigo pensar nisso... desde o minuto em que li este texto do Eduardo Ohata para a Folha de São Paulo não consigo pensar em outra coisa... que destino é esse? Busco explicação pro sofrimento e crueldade ao qual esta família está passando... e me pergunto: porque? Este garoto é diferente do caso que estamos "acostumados" no Brasil... ele não foi de encontro a morte, desafiando-a... ele foi pela primeira vez ao estádio assistir seu time de coração... realizar um sonho! Sonho que eu tive oportunidade de realizar ao lado do meu pai desde pequeno... visitando os estádios de futebol, gritando gol e abraçando-o... pais, os meus, que da mesma forma nunca deixaram nada nos faltar, mesmo em momentos de necessidade... nunca transpareceram fraqueza... sempre zelaram por seus 4 filhos... e que da mesma forma, poderiam ter tido um final desgraçado como este...
Faço das palavras da família as minhas... haverá justiça!? E logo penso... sim... haverá... se não a justiça dos homens, a justiça divina! Paguem por seus atos, covardes... e aos que se orgulham por "passar por cima da lei" como os quatro imorais e imbecis que entraram no Pacaembu ontem através de liminares, meus pesames... vocês são tão sujos como o monstro que acendeu o sinalizador em direção a torcida adversária... e não me venham com falso moralismo, dizendo que foi um acidente... acidentes acontecem quando a gente não espera... quem leva um sinalizador marítimo para dentro do estádio, sabe muito bem o que está fazendo... portanto, que respondam por seus atos irresponsáveis!
Cada dia que passa sinto mais nojo de grande parte da humanidade... e a cada dia procuro me cercar de pessoas boas... que me fazem e fazem aos outros o BEM...
Segue o texto da Folha SP na integra.
"28/02/2013
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04h05
Eles roubaram o futuro de Kevin, diz mãe de boliviano morto em jogo do Corinthians
EDUARDO OHATA
ENVIADO ESPECIAL A COCHABAMBA
ENVIADO ESPECIAL A COCHABAMBA
Filho de um casal de professores de classe média baixa, Limbert e
Carola, que trabalham entre 14 e 16 horas por dia e cujos salários
somados não atingem os US$ 400 (cerca de R$ 800), Kevin Beltrán, 14,
vivenciou dias de euforia na semana que passou.
O adolescente, segundo o seu melhor amigo, Emanuel, festejava que pela
primeira vez iria assistir ao vivo uma partida de seu time, o San José,
em Oruro, e de quebra veria a equipe campeã do Mundial do Japão, o
Corinthians.
"Eu não teria condições financeiras para levá-lo para assistir a Copa no
Brasil, mesmo sendo aqui do lado. O que seria a segunda melhor opção?
Deixá-lo assistir o Corinthians", lembra Limbert, que recebeu a
reportagem da Folha em casa. "E por quê não? Pelo que ele era, merecia."
Era Kevin, no dia a dia, que tomava conta dos irmãos - Jhojan Cristhian,
9, Alexandra, 8, e Matías, 2, enquanto os pais trabalhavam. Foi ele
quem lhes ensinou a brincar, dançar, e ajudava com as lições de casa. O
caçula o chamava de "Papa" ("papai").
"Os pais trabalham o dia todo para oferecer-lhes vida melhor, daí Kevin
ajudá-los a cuidar dos irmãos", diz Mary Encinas, ex-professora de
Kevin, que cursava o terceiro ano do secundário, no colégio particular
Edmundo Bojanowski. Lá, os pais, professores de história, lecionam.
"Ele me surpreendia. Tinha dias em que eu chegava e ele e os irmãos
haviam arrumado a casa. Houve uma vez em que ele disse que eu estava
trabalhando muito, pediu que ensinasse a fazer talharim e ele fez o
almoço", conta, com orgulho, Carola.
Tratava-se de uma via de duas mãos. O pai, reconhecendo o sacrifício, premiava o filho da forma que podia.
Segundo parentes, Limbert deixava de comprar roupas para ele mesmo. Assim, Kevin poderia se vestir melhor.
À reportagem, atendeu usando o seu uniforme.
"Às vezes percebia que ficava chateado quando via os outros com algo que
não podia ter. Mas ele nunca pedia. Tem coisas que até meus filhos
menores reclamavam, como um quarto próprio para ter mais privacidade.
Mas ele, nunca", diz, emocionado, olhos mareados, Limbert.
Os presentes surgiam à medida que o orçamento permitia, e o pouco
dinheiro que recebia, dividia com os irmãos para que comprassem doces.
Passeios, como o da exposição dos dinossauros, cujos preços não eram
para todo mundo (cerca R$ 16), só com promoções de final de temporada,
quando o ingresso dá o direito ao acompanhante.
Apesar das boas notas, que em sua escola vão de 0 a 7 (ver boletim ao
lado), Kevin não sacrificava a vida social. Era o líder da classe,
praticava esportes, como o futebol -era o goleiro-, natação, basquete e
kung fu, tocava zamponha (gaita de fole italiana) e guitarra, e era
mestre de cerimônias em eventos no colégio.
Kevin tinha planos para a segunda que se seguiu à tragédia: Havia feito
uma música, que apresentaria para Eliana, colega de classe por quem
estava apaixonado. Havia mostrado a canção, que falava sobre seu amor,
para a amiga July Zambrano, que contou a Eliana. A "musa" lamentou: "Não
deu tempo...".
Ao lado dela, Mary enumerava as atividades de Kevin.
"Ele fazia rap, dança, da moderna à típica, kung fu e queria aprender caratê. Não sei de onde saia sua energia."
A mãe de Kevin, mostra com orgulho os desenhos e maquetes que ele fazia
com materiais reciclados, e que à primeira vista parecem aquelas feitas
industrialmente.
"Esperava muito desse [Kevin]", comenta, Limbert, 40, os olhos fitando o horizonte.
Tudo mudou na noite de quarta. Limbert recebeu um telefonema do primo que acompanhava Kevin a Oruro.
Contou ao tio que seu filho havia morrido depois de ser atingido pelo sinalizador disparado por um corintiano.
Limbert sentiu as pernas enfraquecerem, caiu no chão.
Foi Ludvi, tio de Kevin, quem conduziu de carro o pai e a mãe a Oruro.
Viagem de quatro a cinco horas, em estrada mal iluminada, à beira de uma
perigosa ribanceira. "Só paramos para abastecer, e essa espera pareceu
uma eternidade...", relata Ludvi.
"Durante todo o trajeto, pensava que poderia ser um engano, que
chegaríamos e não seria ele. Ou que fosse só um machucado no olho... Me
sentia, e sinto, culpado por tê-lo deixado ir", diz Limbert.
Quando a TV confirmou sua morte, na casa, todos choraram. "Burro, burro.
Por que você teve que ir?", repetia Jhojan, como se desse uma bronca no
irmão mais velho.
Jorge Abrego-23.fev.13/Efe | ||
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Parentes e amigos de Kevin Espada participam do seu enterro em Cochabamba, na Bolívia |
Ao chegar a Oruro, lá pelas três da madrugada, pai, mãe e tio não
puderam entrar no necrotério. A polícia o havia selado. Mas ouviram que
poderiam ver o corpo de Kevin, às 8h, brevemente, antes de ser levado à
autópsia. Viram o corpo com o projétil encaixado onde era seu olho, o
lado direito do rosto destruído.
Os pais não acreditavam. Tentaram, em vão, aquecer o corpo do filho, já
rígido. O abraçavam, sem se importar com o vermelho da camisa, de
sangue. O mesmo sangue que foram ao estádio limpar -não queriam que a
tragédia dele fosse exposta na mídia.
"Não sei se essa é uma batalha que vou ganhar", diz Limbert -alusão à atuação do governo brasileiro no caso.
"O rapaz apresentado como culpado [pela Gaviões]. Não parece algo ensaiado?"
Na escola de Kevin -um colégio católico-, a irmã Rosário Cárdenas,
emocionada, perguntou: "Diga-me, vai haver Justiça? Seja sincero!"
Mas foi a mãe de Kevin, Carola, sua melhor amiga, segundo Limbert, que
melhor definiu o episódio: "Eles roubaram o futuro de Kevin..."".
Que a família tenha conforto... e justiça!
RIP Kevin... Domingo, nos lembraremos de você!